quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Mais humanos








Acabou o Campeonato Brasileiro; campeonato que jamais terminará. A última rodada foi estranha. Futebol jogado com um nó ainda não desatado na garganta de atletas. Torcedores respeitando como nunca o minuto de silêncio. O verde da Chape colorindo arquibancadas nunca antes frequentadas pela cor da esperança. A cidadania deu as caras nos estádios. 

O avião caiu há semanas. A nossa ficha ainda não. Estamos ainda tentando digerir a tragédia. E estamos aprendendo com ela. As aulas começaram no estádio de Medellin no momento em que seria realizado o jogo. O que se viu ali foi ímpar. Belo. A sensibilidade dos irmãos colombianos ao chorarem a perda de gente que eles não conheciam foi comovente. Suas lágrimas molharam o ressequido solo dos corações e regaram mundo afora uma semente que já parecia morta: a semente da humanização. O que se viu ali e a partir dali foram demonstrações diversas de solidariedade, de empatia, de amor. Uma harmoniosa reunião das torcidas organizadas de São Paulo saltou dos sonhos para a frente do Pacaembu. Gente que quer se matar ao longo do ano inteiro se reuniu pacificamente para prestar uma simbólica homenagem aos que se foram. Lindo, também, foi o que aconteceu em Curitiba (500 km de Chapecó) no momento e local em que seria disputado o segundo jogo da final do campeonato. O estádio estava cheio de gente que saiu de casa para prestar homenagens às vítimas deste crime. Naquele dia não havia no Couto Pereira torcedor de Coritiba, Atlético Paranaense ou Paraná Clube. Havia gente. Insano fanatismo em décimo plano, diante da triste razão que uniu a voz de três torcidas rivais para cantarem juntas “vamo, vamo Chape”. 

Será que carecemos de tragédias para agirmos como seres humanos? Diante da tragédia o rival se torna irmão. O que nos difere se dissipa e se rende àquilo que nos identifica. Somos humanos. Ainda somos humanos.E podemos decidir ser mais humanos em 2017. Independente de tragédias. Temos um ano novinho em folha pela frente.

Que tal?

Rodolfo Seifert

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